Gênero como categoria de análise
O referencial histórico-dialético pressupõe que todas as atividades humanas são mediadas pela cultura, ou seja, em se tratando de seres humanos não existem fenômenos naturais. Desta forma, as relações de gênero são construções sociais, possuem base material e representam o processo da produção dos lugares de poder de homens e mulheres na sociedade. A concepção de gênero é, pois, de construção social (Saffioti, 1994).
As relações de gênero ocorrem entre sujeitos historicamente situados. Assim, é possível perceber que gênero não regula somente as relações entre homens e mulheres, mas também entre homens e homens e entre mulheres e mulheres.
Como gênero é relacional, quer enquanto categoria analítica quer enquanto processo social, o conceito de relações de gênero deve ser capaz de captar a trama de relações sociais, bem como as transformações historicamente por ela sofridas através dos mais distintos processos sociais, trama esta na qual as relações de gênero têm lugar (Saffioti, 1992, p. 187).
Scott (1995) utiliza-se de duas proposições para definir gênero: para a autora, este é um elemento constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos e é uma forma de dar significado às relações de poder. Ela articula gênero com classe social e raça/etnia, revelando desigualdades e jogos de poder nestes três eixos. Nesta multiderminação os sujeitos são constituídos, subvertendo a lógica cartesiana, linear e dicotômica e tornando gênero uma poderosa ferramenta de análise para compreender as complexas formas de interação humana.
Observamos que as relações entre homens e mulheres são, de modo geral, hierárquicas, desiguais e permeadas por mecanismos excludentes. As mulheres são constantemente abordadas na história como sujeitos incompletos, seres relativos. “O homem é o Sujeito, o Absoluto; ela é o Outro” (Beauvoir, 1980, p. 10). Mesmo com todas as conquistas realizadas nas esferas social, política, econômica e cultural, elas ainda ocupam posição inferiorizada na sociedade. Especificamente no setor ocupacional, a despeito do grande aumento da participação feminina no mercado de trabalho, não se registrou diminuição significativa das desigualdades entre homens e mulheres:
... o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho está mais vinculado à expansão de atividades ‘femininas’ do que ao acesso a atividades ‘masculinas’; as discriminações vertical e horizontal dos mercados de trabalho se reproduzem; a brecha salarial não foi reduzida (é maior quanto maior o nível de instrução); a taxa de desemprego feminina continua sendo superior à dos homens; e aumenta a presença de mulheres nas ocupações mais precárias (Yannoulas, 2002, p. 28).
Ancoradas na tese da construção histórica e social destas desigualdades e dos jogos de poder estabelecidos nas relações de gênero, buscamos a seguir traçar paralelos possíveis entre as categorias trabalho, gênero e a dialética da inclusão/exclusão. “Se o capitalismo depende de uma estratégia de ‘dividir para reinar’, a configuração dessas divisões é construída socialmente através das relações de gênero, de classe, de raças e das práticas sociais” (Souza-Lobo, 1991, p. 151).
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